A camisa (em inglês Shift, em francês Chemise) era a primeira camada da complexa roupa íntima do século 18 e um item encontrado no guarda-roupas de todas as classes sociais e de ambos os sexos. Era uma peça em uso desde a Idade Média e que permaneceu como base da roupa europeia até os anos 1920.
CARACTERÍSTICAS GERAIS
A camisa típica do século 18 tem mangas que variam de comprimento (3/4 a longas) e volume, de acordo com as posses do usuário e traje com o qual ela era seria usada.
Tanto o modelo masculino quanto o feminino são bastante soltas no corpo e seguem a mesma modelagem, com diferenças no comprimento e no decote. A camisa masculina era mais curta (meio das coxas ao joelho) e tinha decote alto, fechado com botões ou cordões. A feminina era longa (do joelho ao meio da canela) e tinha o decote amplo, podendo ser redondo ou quadrado. Era comum que os modelos femininos tivessem a abertura do decote regulada por cordões finos.
Camisa masculina francesa, anos 1780. Museu Metropolitano de Nova York.
Em termos de decoração, ambos os modelos eram muito semelhantes. As decorações incluíam:
- Bordados em fios de seda ou algodão
- Babados feitos do próprio tecido;
- Barrados em rendas estreitas, aplicados no decote e barras de manga;
- Plissados
- Monogramas bordados identificando o proprietário
Exemplo de decoração plissado em camisa feminina inglesa (1740-1780). Acervo do Victoria & Albert Museum
MATERIAIS USADOS
As camisas eram tradicionalmente feitas em linho branco, por questões práticas e sociais. Por ser uma peça que entrava em contato direto com o corpo, a camisa era lavada com bastante frequência e tecidos brancos podiam ser alvejados e fervidos. Por outro lado, a cor branca estava ligada a noções de higiene e manter camisas sempre brancas, principalmente em trajes em que as mangas ficavam à mostra, era sinal de status.
O tipo de linho empregado variava de acordo com a posição social da pessoa. Variações mais finas, semitransparente e macias ao toque, se destinavam à nobreza e burguesia. Variantes mais pesadas atendiam às possibilidades financeiras do restante da população.
Camisa feminina de origem belga (1750-1800), em linho fino. Museu Real de Artes e História da Bélgica.
A partir dos anos 1750, o algodão começa a ganhar importância no comércio têxtil europeu, mas como uma fibra nobre. Por volta de 1780, o algodão estampado estava bem consolidado em vestidos da nobreza e burguesia e começava a competir como o linho como matéria-prima das camisas, dando origem a tecidos misturando as duas fibras.
CONSTRUÇÃO
A construção da camisa obedecia a noções de economia de tecido e sua modelagem se baseava em retângulos e triângulos, permitindo o máximo aproveitamento do material. Isso era muito necessário, considerando que a largura dos linhos da época variava entre 80 e 90cm, contra os 1.4m atuais.
Em “L’Art du tailleur”, um manual de alfaiataria publicado em 1760, o autor dedica longos quatro parágrafos ao processo de tirar medidas e planejar o corte de uma camisa masculina. Garsault propõe em seu livro a seguinte modelagem:
Fonte: Marquise
Sem a presença de cavas arredondadas, a mobilidade dos braços era garantida pela combinação de mangas amplas com triângulos costurado entre a manga e o corpo. Para garantir o conforto no tronco, as laterais também recebiam inserções triangulares, chamadas de nesgas. Nesse modelo feminino é possível ver claramente os triângulos::
Consumo de Tecido
De acordo com o livro “Instructions for Cutting Apparel for the Poor” (1789), 10.8m de linho irlandês seriam o suficiente para 6 camisas de tamanho moderado. O mesmo livro aconselha um número de pelo menos 44 delas para uma criança em idade escolar e 90 para adultos que quisessem trocar suas camisas diariamente!
Referências
- “Art du tailleur: contenant le tailleur d’habits d’hommes, les culottes de peau, le tailleur de corps de femmes & enfants, la couturiere, & la marchande de modes”. Disponível aqui.
- “Instructions for Cutting Apparel for the Poor”. Disponível aqui.
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